Fidel Castro: a morte do líder da Revolução Cubana
“Os homens passam, os povos ficam; os homens passam, as ideias ficam.” A frase é de Fidel Alejandro Castro Ruz, o líder político nascido em Cuba na pequena localidade de Birán a 13 de agosto de 1926, que viria a falecer no passado dia 25 novembro de 2016, aos 90 anos, em Santiago de Cuba. Terceiro filho do relacionamento entre um latifundiário e imigrante espanhol (Ángel Castro) e uma das suas criadas (Lina Ruz), Fidel Castro foi educado durante grande parte da sua vida num colégio jesuíta antes de, em 1945, ingressar na Universidade de Havana para estudar Direito. Após liderar a Revolução Cubana, viria a governar Cuba durante 47 anos, inicialmente como primeiro-ministro (de 1959 a 1976) e posteriormente como presidente (de 1976 a 2006), até passar o poder ao seu irmão (Raúl Castro) em 2008.
Tendo começado por recusar o comunismo pouco depois de consumada a Revolução Cubana ("Não sou comunista") e mais tarde proclamado frases como “Socialismo ou morte! Marxismo-leninismo ou morte!”, ou "Sou marxista-leninista e serei marxista-leninista até ao último dia da minha vida", o líder cubano está longe de ser uma figura consensual da História e da Política.
Por um lado, existem aqueles que o veem como um dos heróis do socialismo que soube resistir ao imperialismo norte-americano da sua época, bem como granjear e manter a independência da sua nação, venerando-o por isso. Por outro, há as vozes que o descrevem como um ditador igual a tantos outros, daqueles que surgiram no decorrer do século XX. Acusam-no de ter desrespeitado direitos humanos, contribuído para a partida de um número avultado de cubanos para fora do país e impedir o normal desenvolvimento da economia cubana, assim como a sua abertura para o exterior. Exemplo disso são as concentrações da comunidade cubana em Miami, na Florida, que se seguiram ao anúncio da sua morte, mais especificamente numa zona conhecida como “little Havana”, onde se ouviram brados de “Cuba livre” e “Liberdade”. O que não deixa de ser irónico, pois foi precisamente pela libertação de Cuba que Fidel se debateu.
Efetivamente, o que os factos históricos mostram é o seguinte: após participações em insurreições contra regimes de direita sob a influência neocolonial dos EUA em vários pontos da América Latina e um golpe falhado sobre o governo cubano de Fulgêncio Batista em 1953, Fidel Castro decide encetar a Revolução Cubana para acabar com as injustiças sociais e libertar o país da tutela americana, começando por reunir em 1954 uma guerrilha de 82 homens da qual fariam parte o seu irmão e atual presidente cubano, Raúl Castro, e o revolucionário argentino Che Guevara. Seguem-se alguns confrontos violentos até à tomada de uma das principais cidades cubanas (Santa Clara), o ponto culminante que determinaria a derrota das forças de Batista (com este a exilar-se) em 1959. Desde logo, Castro (com 33 anos) assume a liderança do seu país (que iria durar até 2006), sem que tardasse uma aliança com a União Soviética (1960), resultando na implementação de armas nucleares em Cuba e, por conseguinte, num dos mais conhecidos episódios da Guerra Fria – A Crise dos Mísseis de Cuba - em 1962. A seguir vieram as primeiras medidas de índole socialista, de que são exemplo a expropriação de latifúndios e a nacionalização de empresas (principalmente as norte-americanas). Concomitantemente, através da nova Constituição, é decretada a pena de morte e o confisco dos bens de quem serviu o regime de Batista - centenas de cubanos são executados, a maioria sem julgamento. Mais, os prisioneiros políticos, as vagas de refugiados e as expulsões forçadas aumentam exponencialmente. Entretanto, em 1961, os EUA tentam, debalde, derrubar o regime de Fidel. John Fitzgerald Kennedy autorizara o treino por parte da CIA de um exército de 1400 cubanos exilados anticastristas com vista à invasão da Baía dos Porcos, invasão essa contida com sucesso pelos homens de Castro.
Ao nível externo, além de manter uma relação tensa com os EUA, Fidel Castro, refletindo a sua fusão com o bloco soviético, encorajou novas revoluções anti-imperialistas, tendo enviado tropas para ajudar em algumas delas. Mais especificamente nas do Chile, Nicarágua, Granada e Angola. Já no século XXI, declarou o seu apoio a outros regimes socialistas sul-americanos contra a hegemonia dos EUA, nomeadamente os de Hugo Chávez na Venezuela e de Evo Morales na Bolívia. Excomungado pelo Vaticano desde 1962, este viria a abrir as portas de Cuba a um dos principais responsáveis pela desagregação da União Soviética, o Papa João Paulo II, em 1998.
Os anos foram passando, Fidel Castro foi reconhecendo alguns dos seus erros de governação e a anacronia do seu regime, até que permitiu, entre outras coisas, a descentralização do poder. Simultaneamente, tornou-se um visitante assíduo e bem-recebido em países do mundo ocidental e da América Latina durante as décadas de 1980 e 1990, por onde continuou a pregar os seus longos e eloquentes discursos. Em 2004, uma aparatosa queda durante uma cerimónia de formatura estudantil, em Santa Clara, parece indicar o início do fim de 'El Comandante'. Não obstante a sua célere recuperação às fraturas no braço e no joelho daqui resultantes, uma intervenção cirúrgica ao intestino em 2006 debilita-o de novo, ao que Fidel Castro reage com a transferência dos seus poderes para o seu irmão mais novo, Raúl. Fidel conserva, contudo, o título de Presidente de Cuba até 2008, ano em que a Assembleia Nacional viria a eleger Raúl Castro para a presidência do país. Daí até ao presente, o antigo presidente cubano passa a aparecer cada vez menos em público, resguardando-se em casa até ao último dia da sua longa e histórica vida, a sexta-feira do dia 25 de novembro de 2016.