Hoje o espetáculo foi outro!
A entrada procedeu-se do mesmo modo que todas as outras vezes. Pessoas ansiosas e com expetativas evidentemente impressas no seu rosto à porta do Teatro São Luiz. Mas, enquanto que habitualmente um espetáculo de teatro nos aguarda na sala, desta vez o espetáculo foi outro. Aguardavam-nos os bastidores!
O eixo único que se traça entre o público e o palco seria extrapolado, o que conduziu a uma reconfiguração do espaço, agora multidimensional. Já não é mais o ‘à frente’ do palco, mas o ‘no’ palco, o ‘por baixo’ do palco e o ‘por cima’ do mesmo.
A visita guiada permite-nos percorrer todos os cantos, recantos, nichos e bastidores do centro de espetáculos e inicia-se pela sala principal, que possui uma estrutura à italiana, ou seja, em forma de ferradura. Uma sala com lotação para mais de 650 espetadores que, contrariamente aos Teatros Dona Maria II e São Carlos, apresenta a particularidade de não deter o camarote presidencial no local onde se vê melhor (o espetáculo) para passar a estar onde se é mais visto. Um pormenor explicado pelo guia e justificado pela egocêntrica postura dos antepassados regentes.
Entretanto damos por nós a ascender ao sétimo piso (Sim, o teatro que julgamos ter apenas 1 ou 2 socalcos, tem na verdade 10 pisos). Circulamos pela teia, pelas pernas, pelas bandolinas… e os segredos que desconhecemos tornam-se acessíveis de forma despretensiosa. “Ah, então é assim que isto funciona?”, “Bem, isso está mesmo bem pensado!”. As exclamações são muitas, mas o deslumbramento impera. Da arquitetura do teatro (a cargo de Luigi Manini, o arquiteto responsável pela fascinante Quinta da Regaleira), passando pelos frescos de dimensões abismais e culminando no Jardim de Inverno, que se constitui como um último e deslumbrante recanto inesperado, a visita apresenta-se como uma excelente proposta para um fim de semana.
Sem revelar muitos segredos, porque spoilers nunca são bem-vindos, mas apenas para aguçar o apetite cultural, deixo este programa cultural como sugestão que nos permite encarar o teatro de outra forma. Por entre os meandros dos tecidos, dos veludos, dos cenários e guarda-roupas… para variar, hoje o espetáculo foi outro.
Fica a dica para um próximo fim de semana.
E para o próximo mês, mais um texto. Mas dessa vez sobre um espetáculo digamos…hummm…não tão Normal. Até lá!